200 anos do Bicentenário da Independência do Brasil: um triste espetáculo de pobreza

 



Há quase 200 anos, deixamos de ser colônia de Portugal e nos transformamos numa nova nação continental que começa na fronteira da Venezuela e se estende até a divisa com o Uruguai.

A independência na América Portuguesa foi proclamada por um descendente da própria realeza de Portugal –d. Pedro 1º. E a partir dali nascia o Brasil. Na América Espanhola, o processo de independência foi comandado por 2 sul-americanos –o argentino San Martin e o venezuelano Simón Bolívar–, e do respectivo processo resultaram proclamadas as independências de 19 países, sem que nenhum espanhol governasse qualquer deles.

O mesmo Brasil em que um português nos governou após supostamente nos tornar independentes é o país onde a tecnologia 5G convive com as agruras da desigualdade social, com as misérias da palafita, da seca, da fome de mais de 33 milhões, do saneamento básico que não chegou a quase 50% da população.

Neste mesmo Brasil, temos fila de espera para aquisições de helicópteros e aviões de luxo e ensino público esmigalhado pela falta de investimentos e pela corrupção que desvia recursos que deveriam ser ali investidos. E partidos políticos torrando os recursos provenientes do orçamento público para o fundo partidário para a aquisição de outros helicópteros, carrões e aviões de luxo, além de orgias e outros gastos sombrios.

Apesar destas terríveis peculiaridades, vivemos a redemocratização desde 1986, ou seja, há 36 anos. Temos uma Constituição Cidadã desde 1988, quando foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS), há 34 anos. Há 90 anos tivemos a conquista do direito do voto da mulher, apesar de termos só 15% de cadeiras ocupadas por elas no Congresso. 

Temos já 133 anos de República, e no ano passado, 2021, o líder do Governo na Câmara defendeu o nepotismo como modelo exemplar e ético de gestão pública. O presidente da mesma Câmara tem slogan de campanha afirmando que ele é “foda”. Já temos 134 anos de abolição da abolição, mas se acumulam as revelações  até hoje de casos escabrosos de pessoas escravizadas em fazendas ou trabalhos domésticos. 

Apesar de todos os pesares, o brasileiro é um povo alegre, que gosta de misturar o feijão com arroz, de festar, de celebrar, sendo sua marca o calor humano, a alegria, a empatia. Mesmo sem essas marcas tão características, nos Estados Unidos, nos 200 anos da independência, em 1976, houve grandes comemorações promovidas pelo governo e pela iniciativa privada. O planejamento começou 10 anos antes –foram milhares de eventos, conforme narra Rubens Ricupero. 

Na França, para fazermos o paralelo, em relação à Queda da Bastilha e à Revolução Francesa, os 200 anos a partir de 14 de julho de 1789,  também foram efusivos, envolvendo  governo e povo francês para marcar a data histórica. 

O atual presidente brasileiro foi eleito empunhando diversas bandeiras, inclusa a do nacionalismo e do patriotismo exacerbados. Sua identidade política e de seus seguidores nas redes sociais enaltece o uso da bandeira nacional, do hino e do próprio nacionalismo. Ele se gaba de ter sido militar, de ter sido forjado nas Forças Armadas. 

Tais premissas, diante do modelo democrático, onde o escolhido pela maioria é o único legitimado para governar para todos, inclusive para os que nele não votaram, era razoável supor que desde 1º de janeiro de 2019, começassem os preparativos para a grande festa de união nacional para comemorar os 200 anos de nossa independência em 7 de Setembro de 2022. Até porque o presidente tomou o poder de um outro grupo político de quem era adversário.


O que se vê, entretanto, é um deprimente e miserável espetáculo de pobreza de espírito política, que os livros de história registrarão por todo o sempre. Não teremos qualquer celebração unindo o país, reverenciando nossa memória política, nossa história republicana, reunindo os ex-presidentes, as nossas instituições.


Pelo contrário, há uma convocação, calcada no ódio, lastreada em disseminação de declarações não comprovadas sobre supostas irregularidades nas urnas eletrônicas, que deram ao próprio presidente 6 mandatos de deputado federal sem qualquer contestação de sua parte pelo mesmo exato sistema. Verdadeiro gesto de ingratidão e de incoerência.


O presidente instabiliza a democracia de seu próprio país ao invés de semear a união e a paz. Espalha a desunião e sonega ao povo brasileiro a oportunidade de comemorar data de importância incomensurável em seu processo histórico. Um povo ceifado de referenciar sua história está sendo alijado nas profundezas de sua essência e as marcas deixadas  por este gesto serão indeléveis, por todo sempre.

Por Roberto Livianu - Poder 360. a-nao-comemoracao-dos-200-anos 


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INDEPENDÊNCIA OU MORTE: PARA QUEM? | Rodrigo Bonciani

CASA DO SABER  - YouTuber

A história do descobrimento e da independência do Brasil nos foi contada de forma heroica. Hoje, o professor Rodrigo Bonciani deixa o romantismo de lado e explica quais os motivos e mecanismos usados ao longo da história para fantasiar um processo de democratização que nunca, de verdade, se consolidou





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