Vacinas: uma vitória da Ciência

 


Charge sobre a Revolta da Vacina mostrando Oswald Cruz como o algoz da população

Charge retratando o cientista Oswaldo Cruz como "esfolador" do Zé Povo

Você conhece a história das vacinas no Brasil? Se hoje nós temos um grande poder de imunização por meio do SUS (Sistema Único de Saúde), é porque, há mais de 200 anos, iniciamos essa trajetória de triunfo da ciência.

história das vacinas no Brasil começa no ano de 1804, quando a vacina contra a varíola chegou ao país, trazida pelo marquês de Barbacena. Quase 30 anos mais tarde, a imunização contra a varíola se tornou obrigatória, o que colaborou muito para a superação dessa doença tão perigosa.

Século XX: a afirmação das vacinas

O século XX é um ponto de virada na história das vacinas no Brasil. Ainda entre os anos 1900 e 1901, foram fundados o Instituto Soroterápico do Rio de Janeiro (futuro Fiocruz) e o Instituto Serumtherápico (futuro Instituto Butantan).

Em 1904, a obrigatoriedade de se proteger contra a varíola gerou o episódio conhecido como Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro. À época, a necessidade de se vacinar se somou a outras insatisfações populares e levou a um motim.

No ano de 1927, se iniciou a vacinação contra a tuberculose no Brasil, com a vacina BCG. 15 anos mais tarde, a febre amarela urbana foi eliminada do país graças à cobertura vacinal.

Em 1973, foi criado o PNI, Plano Nacional de Imunizações, hoje conhecido e valorizado por grande parte dos brasileiros. O primeiro calendário básico de vacinação surgiu em 1977, como reflexo do PNI. Já em 1986, nasceu o Zé Gotinha, simpático personagem que simboliza as campanhas de vacinação.

O ano de 1995 foi bem relevante por conta da substituição da vacina monovalente contra o sarampo pela tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), aplicada até os dias atuais.

Nos anos que se seguiram, e também já no século XXI, o Brasil seguiu avançando na vacinação de seu povo. Doenças como tétano, gripe, difteria, coqueluche, hepatite B, catapora, HPV, entre outras passaram a ser evitadas ou minimizadas pela ação vacinal.

Covid-19, o maior desafio da história

A história das vacinas no Brasil tem um de seus capítulos mais importantes no ano de 2021. Em janeiro, foi iniciada a campanha de imunização contra a Covid-19, doença que, infelizmente, levou centenas de milhares de vidas de brasileiros.

O Brasil contou com a capilaridade de seu Sistema de Saúde para agilizar o processo, mas houve o desafio de obtenção de doses. Ainda assim, o país caminha para proteger toda a população contra a Covid até o final de 2021.

A vacina contra a doença causada pelo novo coronavírus é um excelente exemplo da importância da vacinação para salvar vidas. Muitas doenças só podem ser devidamente enfrentadas com a imunização em massa, assim como busca-se fazer no caso da Covid.

O desafio de superar a resistência à vacinação

Ainda que a maior parte da população compreenda a importância das vacinas, existe um desafio de informação. Muitos não enxergam o devido valor da aplicação do imunizante e resistem em receber as doses



Cinco dias de fúria: Revolta da Vacina envolveu muito mais do que insatisfação com a vacinação


Foram apenas cinco dias, mas marcaram a história da saúde pública no Brasil. No início de novembro de 1904, o Rio de Janeiro, então capital federal, foi palco da maior revolta urbana que já tinha sido vista na cidade. A Revolta da Vacina deixou um saldo de 945 prisões, 110 feridos e 30 mortos, segundo o Centro Cultural do Ministério da Saúde. O estopim da rebelião popular foi uma lei que determinava a obrigatoriedade de vacinação contra a varíola. Mas havia um complexo e polêmico panorama social e político por trás da revolta, e diferentes fatores ajudam a explicar melhor os protestos.

Dados do Instituto Oswaldo Cruz mostram que, naquele ano, uma epidemia de varíola atingiu a capital. O Rio de Janeiro, aliás, sofria com várias outras doenças (como peste bubônica, tuberculose e febre amarela) e era conhecido no exterior pelo nada elogioso apelido de “túmulo dos estrangeiros”. Só em 1904, cerca de 3.500 pessoas morreram na cidade vítimas da varíola, e chegava a 1.800 o número de internações pela enfermidade apenas em um dos hospitais cariocas, o Hospital São Sebastião.

Contexto histórico: República, abolição e reforma

A vacina antivariólica já havia sido desenvolvida em 1796, pelo médico Edward Jenner, na Inglaterra. No Rio de Janeiro, a vacinação da doença era obrigatória para crianças desde 1837 e para adultos desde 1846, conforme o Código de Posturas do Município. No entanto, a regra não era cumprida porque a produção de vacinas era pequena, tendo alcançado escala comercial apenas em 1884. O imunizante também não era bem aceito pelo povo, ainda desacostumado com a própria ideia da vacinação, e diferentes boatos corriam na época, como o de quem se vacinava ganhava feições bovinas.

Porém, havia muitos outros fatores que criavam um cenário de tensão na cidade, como explica o historiador e pesquisador Carlos Fidelis da Ponte, do Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). O país tinha abolido a escravidão e adotado o regime republicano há menos de quinze anos. Havia grupos descontentes com os rumos políticos e sociais do governo. “Entre eles os monarquistas que perderam seus títulos, parte do Exército formado por positivistas que não aprovavam a república oligárquica levada por civis, e ex-escravos que sofriam com a falta de políticas sociais e não conseguiam empregos, vivendo amontoados nos insalubres cortiços da capital”, conta.

Foi nesse contexto que o presidente Rodrigues Alves iniciou um projeto para mudar a imagem no país no exterior – o que significava, principalmente, mudar a imagem da capital federal. Junto com o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, começam uma série de obras visando a remodelação da cidade. Parte do plano incluía uma campanha de saneamento e o combate às doenças, que ficou sob responsabilidade do médico Oswaldo Cruz. Nomeado diretor geral de Saúde Pública, formado no Instituto Pasteur, na França, em pouco tempo conseguiu controlar a febre amarela na cidade, por meio da limpeza de focos de mosquitos Aedes aegypiti e o isolamento de pessoas doentes.

“O projeto de urbanização do governo começou a alargar as ruas da cidade, a exemplo do que tinha feito sido em Paris. Boa parte dos cortiços da região Central foram destruídos e a população pobre foi removida de suas moradias, dando início ao projeto de favelização. Além disso, foi lançado um código de posturas municipais que proibiu cães vadios e vacas leiteiras nas ruas, a venda de miúdos e carnes nas bancas da cidade, o costume de andar descalço pelo Centro, assim como passar com porco e gado. Isso tudo foi criando uma insatisfação enorme na população”, detalha o historiador.

A revolta

A gota d’água para a Revolta da Vacina iniciar foi a aprovação da lei nº 1.261 em 31 de outubro de 1904, e a regulamentação em seguida, em 9 de novembro. Sugerida por Oswaldo Cruz, tornava obrigatória a exigência de comprovantes de vacinação contra a varíola para a realização de matrículas nas escolas, obtenção de empregos autorização para viagens e certidões de casamentos. A medida previa também o pagamento de multas para quem resistisse à vacinação.

"A população não aceitava ter a casa invadida para ser vacinado e havia uma forte discussão sobre o direito de o Estado mandar no corpo dos cidadãos. A mesma questão que voltou à tona recentemente, com vacinação contra a covid-19”, lembra Fidelis da Ponte. “Não foi apenas uma questão de ignorância da população, motivada pelos boatos. Figuras como Ruy Barbosa, um intelectual, fizeram discursos inflamados contra a obrigatoriedade da vacina. É importante entender a novidade que a vacinação representava e os muitos fatores relacionados à revolta”, completa.

Depois de a poeira abaixar

Embora os protestos tenham começado pela vacinação, logo se dirigiu aos serviços públicos em geral e ao governo. A Revolta da Vacina durou cinco dias, e nas ruas da capital, bondes foram atacados, virados e queimados. Os manifestantes também romperam fiações elétricas, levantaram barricadas, derrubaram árvores e apedrejaram carros.

A lei que determinava a obrigatoriedade da imunização foi revogada em 16 de novembro, quando também foi decretado o estado de sítio no Rio de Janeiro. Por outro lado, de acordo com o historiador da Casa de Oswaldo Cruz, chegaram a ser presas diversas pessoas que não tinham relação com a revolta, como malandros e cafetões, dando seguimento ao projeto de construção da “Paris tropical”. 

Para Fidelis da Ponte, a estratégia usada contra a varíola, por meio da vacinação obrigatória, errou, principalmente, no aspecto da comunicação. “Oswaldo Cruz escrevia tratados, artigos de jornal, textos de cunho acadêmico e científico que detalhavam como a vacina funcionava e os seus efeitos positivos. Mas a grande maioria da população era analfabeta ou semianalfabeta. Os críticos do médico se aproveitavam disso e utilizavam charges publicadas nos jornais, marchinhas e mesmo os boatos para ironizarem a iniciativa. Eram armas poderosíssimas que convenciam o povo”, salienta o historiador.

O resultado foi que no ano de 1908, uma nova e intensa epidemia de varíola voltou a atingir o Rio de Janeiro, com mais de 6.500 casos, segundo dados da Casa de Oswaldo Cruz. Foi só então que a população começou a procurar voluntariamente os postos de saúde para se vacinar. Muito esforço seria necessário, ainda, para que o Brasil finalmente conseguisse erradicar a varíola em 1971.

“A vacina é, certamente, o melhor instrumento de saúde pública já inventado. Na ausência dos imunizantes, teríamos tido muito mais mortes por um grande número de doenças e teríamos vivido muito mais pandemias. Infelizmente, a vacina voltou a ser questionada recentemente e precisamos defendê-la. A vacina é segura e funciona. A revolta deixa como importante ensinamento que a vacinação não é só uma questão médica, como também sociológica, cultural, antropológica e histórica. Para uma campanha de imunização ser bem-sucedida, é necessário o envolvimento de profissionais de diferentes áreas”, finaliza o historiador Carlos Fidelis da Ponte. Fonte.https://portal.fiocruz.br/noticia/cinco-dias-de-furia-revolta-da-vacina-envolveu-muito-mais-do-que-insatisfacao-com-vacinacao

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Edward Jenner e a VacinaçãoAo falarmos sobre vacina no Brasil, você logo lembra de Oswaldo Cruz, certo? A Revolta da Vacina, que aconteceu no Rio de Janeiro em 1904, não é? Mas, você sabe como surgiu a vacina? Já ouviu falar em Edward Jenner? Foi ele que descobriu a vacina contra a varíola.

Edward Jenner nasceu em Berkeley, na Inglaterra, em 17 de maio de 1749. Com apenas treze anos de idade, já ajudava um cirurgião em Bristol. Sua família era grande, sendo o oitavo entre nove irmãos e recebeu uma rígida educação. Formou-se em medicina em Londres, e, em seguida, retornou a sua cidade natal, onde realizou experimentos relativos à varíola, que, na época, era uma das doenças mais temidas pela humanidade. A varíola matava cerca de 400 mil pessoas por ano.

Em 1789, ele começou a observar que as pessoas que ordenhavam vacas não contraíam a varíola, desde que tivessem adquirido a forma animal da doença. O médico extraiu o pus da mão de uma ordenhadora que havia contraído a varíola bovina e o inoculou em um menino saudável, James Phipps, de oito anos, em 4 de maio de 1796. O menino contraiu a doença de forma branda e, em seguida, ficou curado. 

Em 1º de julho, Jenner inoculou no mesmo menino líquido extraído de uma pústula de varíola humana. James não contraiu a doença, o que significava que estava imune à varíola. Estava descoberta a primeira vacina com vírus atenuado que, em dois séculos, erradicaria a doença. Phipps foi o décimo-sétimo caso descrito no primeiro artigo de Jenner sobre vacinação, “Um Inquérito sobre as Causas e os Efeitos da Vacina da Varíola”.

Quando relatou a sua experiência à Royal Society - a Academia de Ciências do Reino Unido -, no ano seguinte, suas provas foram consideradas insuficientes. O médico realizou novas inoculações em outras crianças, inclusive no próprio filho. Em 1798, o seu trabalho foi reconhecido e publicado. Em um primeiro momento, sua pesquisa foi ridicularizada, sendo denunciado como repulsivo o processo de infectar pessoas com material colhido de animais doentes. No entanto, os benefícios da imunização logo se tornaram evidentes.

O reconhecimento em seu país só foi alcançado após médicos de outros países adotarem a vacinação e obterem resultados positivos. A partir de então, Edward Jenner ficou famoso mundialmente por ter inventado a vacina. Em 1799, foi criado o primeiro instituto vacínico em Londres e, em 1800, a Marinha britânica começou a adotar a vacinação. 

Jenner foi encontrado após ter um AVC, em 25 de janeiro de 1823. Por conta disso, ficou com a parte direita de seu corpo paralisada. Após um segundo ataque, ele veio a falecer, no dia seguinte, aos 73 anos. Foi sepultado no jazigo da família Jenner, na Church of St. Mary, em Berkeley. Sua casa foi transformada no Edward Jenner Museum. O Instituto Edward Jenner para Pesquisa de Vacinas é um centro de pesquisas de doenças infecciosas, parte da Universidade de Oxford.

 

Jornalista: Gabriella Ponte (com informações da Revista da Vacina do Centro Cultural da Saúde). Imagens: Edward Jenner Museum. Fonte: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1738-conheca-a-historia-das-vacinas.

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rauzio Varella

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