Filosofia, História e Arte: A construção da Independência do Brasil em evento heroico

 

A Independência do Brasil foi proclamada em 7 de setembro de 1822, pelo então Príncipe Regente, Dom Pedro de Alcântara.

Esta ocasião também é chamada de "Grito de Independência", pois, segundo a tradição, Dom Pedro teria dito em alto e bom som a frase "independência ou morte" à guarda que o acompanhava às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo.

Contudo, não há um consenso entre historiadores quanto a veracidade desse grito.

No dia 1º de dezembro do mesmo ano, D. Pedro foi coroado imperador do Brasil, com o título de D. Pedro I, posto que ocupou até o ano de 1831.

Pintura “Independência ou Morte” do artista brasileiro Pedro Américo



Os elementos do quadro “O grito do Ipiranga”, 7,60 m x 4,51 m, Pedro Américo, 1888. Museu Paulista/USP, SP. No centro, em posição mais elevada, está D. Pedro, príncipe regente, montado a cavalo, com uniforme de gala e erguendo a espada.

 A comitiva, à direita do príncipe, é formada por dez homens que erguem seus chapéus. 

A frente deles, trinta soldados, os Dragões da Independência, com uniforme de gala, formam um semicírculo e erguem suas espadas.

 Os soldados, foram pegos de surpresa pelo gesto de D. Pedro, o que se percebe pelo movimento dos animais e pelo quinto soldado (da esquerda para a direita) que se apressa para montar o cavalo.  Ao fundo, à direita, outros dois soldados também estão começando a montar seus cavalos. 

Próximo a eles, há um civil usando cartola que ergue um guarda-chuva; segundo alguns estudiosos, seria Pedro Américo que se autorretratou no quadro.

 À esquerda, três figuras populares: um homem conduzindo um carro de boi carregado de toras de madeira e que olha a cena assustado (ou curioso?); atrás, um outro montado a cavalo e mais ao fundo, um negro conduzindo um jumento que segue de costas ao grupo.

 O riacho do Ipiranga está em primeiro plano e suas águas respingam na pata do cavalo. 

Um casebre, ao fundo à direita, compõe a cena reforçando o caráter rural do lugar; apelidado de “Casa do Grito”, seria um local de pouso para as tropas que viajavam naquele caminho.

Fonte: Blog Ensinar História - Joelza Ester Domingues

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Quadro mais famoso da independência do Brasil não retratou a realidade

Artista plástico Pedro Américo buscou tornar a cena mais "inspiradora"

Da tela para o imaginário popular. A pintura “Independência ou Morte” do artista brasileiro Pedro Américo eternizou o que teria sido o marco do fim da colonização portuguesa no Brasil.

Ao lado de muitos apoiadores e acompanhado da guarda imperial, Dom Pedro I, montando um belo cavalo, ergue a espada e declara a independência do Brasil às margens do Rio Ipiranga em 7 de setembro de 1822. Mas, de acordo com historiadores, não foi bem assim que tudo aconteceu.

Primeiro, é preciso dizer que o pintor Pedro Américo não era nem nascido naquele momento histórico. A obra foi feita sob encomenda mais de sessenta anos depois do episódio, em 1888, para o Museu do Ipiranga, em São Paulo.

O artista, que vivia em Florença, na Itália, fez uma pesquisa para resgatar informações da época. O estudo deu origem a um quadro menor que está exposto no Palácio do Itamaraty, em Brasília. O quadro final mede cerca de quatro metros de altura por sete de largura e virou uma referência visual do rompimento entre Brasil e Portugal.

Fora da tela, a cena seria mais ou menos assim: o príncipe regente abatido em cima de uma mula, vestindo roupas simples, acompanhado de poucas pessoas. Relatos de testemunhas descrevem que Dom Pedro I, naquela tarde de 7 setembro, estaria com problemas gastrointestinais, sofrendo com disenteria. Não havia cavalos de raça porque a região exigia a força de animais mais fortes. A comitiva geralmente tinha catorze pessoas. Os guardas não estariam usando uma farda tão pomposa. Os Dragões da Independência só adotaram o uniforme representado na pintura mais de cem anos depois, em 1926.

O próprio pintor deixou um texto explicativo sobre a produção em que revela a intenção de mostrar a independência como algo esplêndido e heroico, deixando de lado o que não seria tão bonito de se ver. Nas palavras de Pedro Américo: “A realidade inspira, e não escraviza o pintor.” O artista destaca que se esforçou para ser sincero na reprodução do fato sem esquecer as beleza da arte.

* Fonte: Agência Brasil 

Edição: Sheily Noleto / Guilherme Strozi


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Casa do Saber -  Independência ou Morte: Para quem?  - Rodrigo Bonciani - YouTube

A história do descobrimento e da independência do Brasil nos foi contada de forma heroica. Hoje, o professor Rodrigo Bonciani deixa o romantismo de lado e explica quais os motivos e mecanismos usados ao longo da história para fantasiar um processo de democratização que nunca, de verdade, se consolidou.

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A não comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil

Há quase 200 anos, deixamos de ser colônia de Portugal e nos transformamos numa nova nação continental que começa na fronteira da Venezuela e se estende até a divisa com o Uruguai.

A independência na América Portuguesa foi proclamada por um descendente da própria realeza de Portugal –d. Pedro 1º. E a partir dali nascia o Brasil. Na América Espanhola, o processo de independência foi comandado por 2 sul-americanos –o argentino San Martin e o venezuelano Simón Bolívar–, e do respectivo processo resultaram proclamadas as independências de 19 países, sem que nenhum espanhol governasse qualquer deles.

O mesmo Brasil em que um português nos governou após supostamente nos tornar independentes é o país onde a tecnologia 5G convive com as agruras da desigualdade social, com as misérias da palafita, da seca, da fome de mais de 33 milhões, do saneamento básico que não chegou a quase 50% da população.

Neste mesmo Brasil, temos fila de espera para aquisições de helicópteros e aviões de luxo e ensino público esmigalhado pela falta de investimentos e pela corrupção que desvia recursos que deveriam ser ali investidos. E partidos políticos torrando os recursos provenientes do orçamento público para o fundo partidário para a aquisição de outros helicópteros, carrões e aviões de luxo, além de orgias e outros gastos sombrios.

Apesar destas terríveis peculiaridades, vivemos a redemocratização desde 1986, ou seja, há 36 anos. Temos uma Constituição Cidadã desde 1988, quando foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS), há 34 anos. Há 90 anos tivemos a conquista do direito do voto da mulher, apesar de termos só 15% de cadeiras ocupadas por elas no Congresso. 

Temos já 133 anos de República, e no ano passado, 2021, o líder do Governo na Câmara defendeu o nepotismo como modelo exemplar e ético de gestão pública. O presidente da mesma Câmara tem slogan de campanha afirmando que ele é “foda”. Já temos 134 anos de abolição da abolição, mas se acumulam as revelações  até hoje de casos escabrosos de pessoas escravizadas em fazendas ou trabalhos domésticos. 

Apesar de todos os pesares, o brasileiro é um povo alegre, que gosta de misturar o feijão com arroz, de festar, de celebrar, sendo sua marca o calor humano, a alegria, a empatia. Mesmo sem essas marcas tão características, nos Estados Unidos, nos 200 anos da independência, em 1976, houve grandes comemorações promovidas pelo governo e pela iniciativa privada. O planejamento começou 10 anos antes –foram milhares de eventos, conforme narra Rubens Ricupero. 

Na França, para fazermos o paralelo, em relação à Queda da Bastilha e à Revolução Francesa, os 200 anos a partir de 14 de julho de 1789,  também foram efusivos, envolvendo  governo e povo francês para marcar a data histórica. 

O atual presidente brasileiro foi eleito empunhando diversas bandeiras, inclusa a do nacionalismo e do patriotismo exacerbados. Sua identidade política e de seus seguidores nas redes sociais enaltece o uso da bandeira nacional, do hino e do próprio nacionalismo. Ele se gaba de ter sido militar, de ter sido forjado nas Forças Armadas. 

Tais premissas, diante do modelo democrático, onde o escolhido pela maioria é o único legitimado para governar para todos, inclusive para os que nele não votaram, era razoável supor que desde 1º de janeiro de 2019, começassem os preparativos para a grande festa de união nacional para comemorar os 200 anos de nossa independência em 7 de Setembro de 2022. Até porque o presidente tomou o poder de um outro grupo político de quem era adversário.


O que se vê, entretanto, é um deprimente e miserável espetáculo de pobreza de espírito política, que os livros de história registrarão por todo o sempre. Não teremos qualquer celebração unindo o país, reverenciando nossa memória política, nossa história republicana, reunindo os ex-presidentes, as nossas instituições.


Pelo contrário, há uma convocação, calcada no ódio, lastreada em disseminação de declarações não comprovadas sobre supostas irregularidades nas urnas eletrônicas, que deram ao próprio presidente 6 mandatos de deputado federal sem qualquer contestação de sua parte pelo mesmo exato sistema. Verdadeiro gesto de ingratidão e de incoerência.


O presidente instabiliza a democracia de seu próprio país ao invés de semear a união e a paz. Espalha a desunião e sonega ao povo brasileiro a oportunidade de comemorar data de importância incomensurável em seu processo histórico. Um povo ceifado de referenciar sua história está sendo alijado nas profundezas de sua essência e as marcas deixadas  por este gesto serão indeléveis, por todo sempre.

Por Roberto Livianu - Poder 360. a-nao-comemoracao-dos-200-anos 

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Gritos de independência, por Frei Betto


"No Brasil, a inflação corrói o parco auxílio, a agricultura familiar não merece crédito, os hospitais estão doentes, a saúde se encontra em estado quase terminal, a escola gazeteia, o sistema previdenciário associa-se ao funerário e a esperança se reduz a um novo par de tênis, um emprego qualquer, alçar a fantasia pelo consolo eletrônico das telenovelas."


"O grito dos excluídos ecoa neste bicentenário da independência. Ecoa na contramão dos caminhos que restauram o passado, traçados por aqueles que ainda incensam a ditadura e reforçam o apartheid social. Ecoa indignado frente à avalanche de corrupção que ameaça nossa frágil democracia. Ecoa do peito daqueles que exigem o direito dos pobres acima da ganância dos credores. Ecoa do clamor por ética na política, transparência nos poderes da República e severa punição aos que traíram os anseios do povo, inoculando-nos o medo de ter esperanças."


Frei Betto é escritor, autor de “Tom vermelho do verde” (Rocco), entre outros livros.

Atividade: Leitura, reflexão, produção e debate 1- O que significa a palavra Independência? 2- Onde estava o povo na pintura “Independência ou Morte”. Independência para quem? 3- O que podemos pensar sobre os resultados da Independência política do Brasil? 4- Quem é seu preferido para vencer as eleições, governar o Brasil e melhorar a vida do povo brasileiro? 5- 7 de Setembro, Independência Política do Brasil: Comemorar ou lutar? O que é preciso defender? 6- Quais são bandeiras de lutas do povo brasileiro? 7- O Brasil é um País Pacífico? 8- Qual sua palavra de ordem? Escreva, manifeste-se. 9- O que é ser patriota?



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